Correntes
Historiográficas
A História é
uma Ciência Humana que investiga a trajetória das sociedades humanas em seu
tempo e espaço. Ela questiona, interroga, analisa, reconstrói, desconstrói e
reorganiza o passado, através de suas características políticas, econômicas,
sociais e culturais.
A História,
por ser uma Ciência Humana, se submete ao método científico com toda uma
estrutura de pesquisa e trabalho, através da análise da
história escrita, das descrições do passado; especificamente dos enfoques
na narração, interpretações, visões de mundo, uso das evidências ou documentos e
os métodos de sua apresentação pelos historiadores;
e também o estudo destes, por sua vez sujeitos e objetos da ciência.
1. Positivismo (século XIX)
No século
XIX, historiadores como Leopold von Ranke, consideravam que a história deveria
tratar apenas de temas políticos, militares e feitos de grandes heróis.
Utilizando somente fontes escritas e desvalorizando todas as outras fontes
históricas, esses historiadores se ocupavam em descrever a vida dos reis e sua
corte, as batalhas, guerras e acordos de paz. Somente fontes escritas dos
governos, vistas como oficiais eram utilizadas. Dessa forma, excluíram da
História os povos ágrafos (que não utilizam escrita), os homens comuns e sua
vida cotidiana, os trabalhadores, as mulheres, as crianças, etc.
Em busca de
uma história verdadeira e única, esses historiadores se influenciaram pelo
Positivismo. O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a
única forma de conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas somente
pode-se afirmar que uma teoria é correta se ela for comprovada através de
métodos científicos válidos. Os positivistas não consideram os conhecimentos
ligados as crenças, superstição ou qualquer outro que não possa ser comprovado
cientificamente. Para eles, o progresso da humanidade depende exclusivamente
dos avanços científicos.
2. Materialismo Histórico - Marxismo (séculos XIX e XX)
O Marxismo
tendo o materialismo histórico como sua principal ferramenta para olhar o
passado, tomou a questão dos problemas de ordem política e econômica como peças
fundamentais para que as experiências históricas fossem interpretadas. Desse
modo, a cultura apresenta-se numa relação de subordinação ao eixo político e econômico.
A
historiografia marxista ressalta a importância das massas nos feitos históricos
e percebe as massas populares como integrantes ativos na construção da história
através da luta contra a dominação ou alienação das classes oprimidas pelo
sistema capitalista.
A partir
disso, a história não é dada, mas sim construída socialmente pelos indivíduos
que nela se inserem. Historiadores como Eric Hobsbawm, Perry Anderson e Edward
Thompson, fazem suas próprias interpretações do pensamento marxista. Na atualidade
essa linha de pesquisa é denominada História Econômica Social.
3. Escola dos Annales – Estudo das
Mentalidades Humanas (a
partir de 1929)
A Escola dos
Annales é uma corrente historiográfica surgida na França em 1929 em torno da
revista Annales d`histoire économique et
sociale, criada por Marc Bloch e Lucien Febvre. Num primeiro momento,
combatiam a historiografia positivista e a marxista e uma história preocupada
somente com os fatos singulares, sobretudo com os de natureza política,
diplomática e militar. Não reconheciam a determinância do econômico na
totalidade social, ao contrário do proposto pela concepção marxista da
história.
Também
combatiam uma história que se negava ao diálogo com as demais ciências humanas,
portanto, essa corrente historiográfica foi responsável pelo diálogo com outras
ciências como Sociologia, Arqueologia, Antropologia, Economia, Geografia,
Psicologia, etc.
Marc Bloch e
Lucien Febvre passam a fazer diferentes abordagens em seus trabalhos que
combinavam Geografia, História e abordagens sociológicas, mantendo com essa
postura maior diálogo com outras ciências sociais.
Lucien Febvre
seguiu com a corrente dos Annales nas décadas de 40 e 50 e nessa época orientou
Fernand Braudel que se tornaria um dos historiadores mais conhecidos da chamada
“segunda geração” dessa escola.
Fernand
Braudel propõe que o olhar do historiador se desvie para a chamada “história de
longa duração”. Será um conceito caríssimo à concepção de mentalidades,
concebidas como estruturas de crenças e comportamentos que mudam muito
lentamente, tendendo por vezes à inércia e à estagnação.
Mas a “era
Braudel” foi em tudo avessa ao estudo do mental, concebendo sempre a longa
duração como um domínio temporal basicamente ligado às relações entre o homem,
a geografia e as condições de vida material.
A chamada
“terceira geração”, ou História Nova idealizada por Jacques Le Goff propõe uma
ênfase na micro-história que se baseia numa proposta metodológica em que o
recorte temático se faz com um assunto bastante específico. Um grande expoente
dessa corrente historiográfica é Carlo Ginzburg que escreveu “O queijo e os
vermes” que relata o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela
Inquisição. Publicado em 1976, retrata o cotidiano de um moleiro torturado e
acusado pela Inquisição de heresia, conhecido como Menocchio.
Nessa
narrativa, Ginzburg demonstrou como a Inquisição confrontava-se com um homem
simples, mas que através de suas leituras e da cultura oral construiu reflexões
próprias sobre sua sociedade, inclusive sobre a estrutura da Igreja.
Portanto,
essa obra analisa um tema mais amplo, a Inquisição, a partir de um caso
específico. O autor parte da vida cotidiana na área rural da Itália do século
XVI até chegar aos pensamentos da personagem principal. A contribuição
histórica estaria no fato de que o autor com suas pesquisas e trabalho de
catalogação e análise de documentos teria nos dado a conhecer o contexto
social, político e econômico da época através de um caso singular. Ou seja,
resgatou a articulação entre as partes e o todo.
Além da micro-história, a
terceira geração promoveu uma aproximação com a Antropologia Cultural,
incorporando algumas de suas abordagens, conceitos e técnicas, o que provocou
um movimento para a micro-história, como já vimos, mas também para a história
do cotidiano, a história vista de baixo (história das pessoas comuns, das
massas populares) e a história regional dando início à História Cultural ou
Nova História.
Há um
deslocamento da história das sociedades para a história dos pequenos grupos,
uma história dos diferentes, dos marginalizados, dos fracos e dos vencidos. Na
História Cultural irão conviver autores que enfatizam a ligação da cultura com
os aspectos socioeconômicos da realidade - a chamada História Sociocultural - e
autores que consideram que as ideias determinam a história. Sua vertente
hegemônica tem por norte a ideia de que as estruturas culturais, mentalidades,
representações, imaginário, determinam a sociedade.
O foco de
seus estudos serão as permanências (perspectiva de longa duração) e o resgate
dos fenômenos que persistem nas sociedades. Por isso mesmo, predominam obras
voltadas para o passado distante, especialmente medieval, onde vão buscar a
origem de muitas manifestações folclóricas.
Ocorre também
o surgimento da história serial, ou “em migalhas”, no lugar da história do
real, busca-se a história de tal ou qual fragmento do real. Explodem temas como
a história da infância, do sonho, do corpo, do odor, da morte, do amor, da
sexualidade, entre outros.