sexta-feira, 17 de abril de 2020

CORRENTES HISTORIOGRÁFICAS


Correntes Historiográficas

A História é uma Ciência Humana que investiga a trajetória das sociedades humanas em seu tempo e espaço. Ela questiona, interroga, analisa, reconstrói, desconstrói e reorganiza o passado, através de suas características políticas, econômicas, sociais e culturais.

A História, por ser uma Ciência Humana, se submete ao método científico com toda uma estrutura de pesquisa e trabalho, através da análise da história escrita, das descrições do passado; especificamente dos enfoques na narraçãointerpretações, visões de mundo, uso das evidências ou documentos e os métodos de sua apresentação pelos historiadores; e também o estudo destes, por sua vez sujeitos e objetos da ciência.

1. Positivismo (século XIX)

No século XIX, historiadores como Leopold von Ranke, consideravam que a história deveria tratar apenas de temas políticos, militares e feitos de grandes heróis. Utilizando somente fontes escritas e desvalorizando todas as outras fontes históricas, esses historiadores se ocupavam em descrever a vida dos reis e sua corte, as batalhas, guerras e acordos de paz. Somente fontes escritas dos governos, vistas como oficiais eram utilizadas. Dessa forma, excluíram da História os povos ágrafos (que não utilizam escrita), os homens comuns e sua vida cotidiana, os trabalhadores, as mulheres, as crianças, etc.

Em busca de uma história verdadeira e única, esses historiadores se influenciaram pelo Positivismo. O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas somente pode-se afirmar que uma teoria é correta se ela for comprovada através de métodos científicos válidos. Os positivistas não consideram os conhecimentos ligados as crenças, superstição ou qualquer outro que não possa ser comprovado cientificamente. Para eles, o progresso da humanidade depende exclusivamente dos avanços científicos.

2. Materialismo Histórico - Marxismo (séculos XIX e XX)

O Marxismo tendo o materialismo histórico como sua principal ferramenta para olhar o passado, tomou a questão dos problemas de ordem política e econômica como peças fundamentais para que as experiências históricas fossem interpretadas. Desse modo, a cultura apresenta-se numa relação de subordinação ao eixo político e econômico.

A historiografia marxista ressalta a importância das massas nos feitos históricos e percebe as massas populares como integrantes ativos na construção da história através da luta contra a dominação ou alienação das classes oprimidas pelo sistema capitalista.

A partir disso, a história não é dada, mas sim construída socialmente pelos indivíduos que nela se inserem. Historiadores como Eric Hobsbawm, Perry Anderson e Edward Thompson, fazem suas próprias interpretações do pensamento marxista. Na atualidade essa linha de pesquisa é denominada História Econômica Social.

3. Escola dos Annales – Estudo das Mentalidades Humanas (a partir de 1929)

A Escola dos Annales é uma corrente historiográfica surgida na França em 1929 em torno da revista Annales d`histoire économique et sociale, criada por Marc Bloch e Lucien Febvre. Num primeiro momento, combatiam a historiografia positivista e a marxista e uma história preocupada somente com os fatos singulares, sobretudo com os de natureza política, diplomática e militar. Não reconheciam a determinância do econômico na totalidade social, ao contrário do proposto pela concepção marxista da história.

Também combatiam uma história que se negava ao diálogo com as demais ciências humanas, portanto, essa corrente historiográfica foi responsável pelo diálogo com outras ciências como Sociologia, Arqueologia, Antropologia, Economia, Geografia, Psicologia, etc.
Marc Bloch e Lucien Febvre passam a fazer diferentes abordagens em seus trabalhos que combinavam Geografia, História e abordagens sociológicas, mantendo com essa postura maior diálogo com outras ciências sociais.

Lucien Febvre seguiu com a corrente dos Annales nas décadas de 40 e 50 e nessa época orientou Fernand Braudel que se tornaria um dos historiadores mais conhecidos da chamada “segunda geração” dessa escola.

Fernand Braudel propõe que o olhar do historiador se desvie para a chamada “história de longa duração”. Será um conceito caríssimo à concepção de mentalidades, concebidas como estruturas de crenças e comportamentos que mudam muito lentamente, tendendo por vezes à inércia e à estagnação.

Mas a “era Braudel” foi em tudo avessa ao estudo do mental, concebendo sempre a longa duração como um domínio temporal basicamente ligado às relações entre o homem, a geografia e as condições de vida material.

A chamada “terceira geração”, ou História Nova idealizada por Jacques Le Goff propõe uma ênfase na micro-história que se baseia numa proposta metodológica em que o recorte temático se faz com um assunto bastante específico. Um grande expoente dessa corrente historiográfica é Carlo Ginzburg que escreveu “O queijo e os vermes” que relata o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Publicado em 1976, retrata o cotidiano de um moleiro torturado e acusado pela Inquisição de heresia, conhecido como Menocchio.

Nessa narrativa, Ginzburg demonstrou como a Inquisição confrontava-se com um homem simples, mas que através de suas leituras e da cultura oral construiu reflexões próprias sobre sua sociedade, inclusive sobre a estrutura da Igreja.

Portanto, essa obra analisa um tema mais amplo, a Inquisição, a partir de um caso específico. O autor parte da vida cotidiana na área rural da Itália do século XVI até chegar aos pensamentos da personagem principal. A contribuição histórica estaria no fato de que o autor com suas pesquisas e trabalho de catalogação e análise de documentos teria nos dado a conhecer o contexto social, político e econômico da época através de um caso singular. Ou seja, resgatou a articulação entre as partes e o todo. 

Além da micro-história, a terceira geração promoveu uma aproximação com a Antropologia Cultural, incorporando algumas de suas abordagens, conceitos e técnicas, o que provocou um movimento para a micro-história, como já vimos, mas também para a história do cotidiano, a história vista de baixo (história das pessoas comuns, das massas populares) e a história regional dando início à História Cultural ou Nova História.

Há um deslocamento da história das sociedades para a história dos pequenos grupos, uma história dos diferentes, dos marginalizados, dos fracos e dos vencidos. Na História Cultural irão conviver autores que enfatizam a ligação da cultura com os aspectos socioeconômicos da realidade - a chamada História Sociocultural - e autores que consideram que as ideias determinam a história. Sua vertente hegemônica tem por norte a ideia de que as estruturas culturais, mentalidades, representações, imaginário, determinam a sociedade.

O foco de seus estudos serão as permanências (perspectiva de longa duração) e o resgate dos fenômenos que persistem nas sociedades. Por isso mesmo, predominam obras voltadas para o passado distante, especialmente medieval, onde vão buscar a origem de muitas manifestações folclóricas.

Ocorre também o surgimento da história serial, ou “em migalhas”, no lugar da história do real, busca-se a história de tal ou qual fragmento do real. Explodem temas como a história da infância, do sonho, do corpo, do odor, da morte, do amor, da sexualidade, entre outros.

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